quinta-feira, 7 de junho de 2012

Psicanálise e Educação - Rinaldo Voltolini

Considerações sobre o livro...

O autor faz ricas considerações sobre a relação psicanálise e educação, o que ma faz compreender quão ricas são as contribuições que a primeira faz a segunda, ficando a meu ver que, apesar de Freud discorrer sobre a sexualidade suas considerações vão para além da “educação sexual”. Primeiramente contribui com a explicação de que a criança vem ao mundo por um desejo dos pais, pois hoje é de conhecimento de todos diversas maneiras contraceptivas para se evitar uma gravidez, então essa criança torna-se um objeto de desejo (não sexual) dos pais, onde por meio desta criança irá atender (ou ao menos busca-se isso) as necessidades narcísicas dos pais, tentando fazer, por menor que seja, da criança sua imagem e semelhança.

O mesmo acontece com a relação aluno-professor, onde o professor encontra sua sublimação nos atos/momentos em que seu aluno consegue também sublimar suas pulsões no ato de aprender, ou melhor dizendo, apreender um conceito ou assunto, explicitando isso por meio do debate/embate, resolução de situações-problema nas provas e apresentações de trabalhos de pesquisa, o aluno então, como objeto de desejo (não sexual) do professor que atende as necessidades narcisísticas de quem ensina na medida que consegue mostrar o quanto o professor o influenciou e o marcou, conseguindo empregar no aluno seu saber.

O autor discorre também sobre a relação transferencial aluno-professor e professor-aluno, e que esta influencia muito mais na aprendizagem do que as disciplinas que se ensina, pois inconscientemente remete a uma simpatia ou antipatia gratuita de ambas pessoas por lembrar de um sujeito que lhe remete boas lembranças ou de um sujeito que remete a más lembranças, criando com isso um campo amistoso ou não para a aprendizagem. Porém destacada que o ato de aprender está muito mais ligado “muito mais a uma operação ativa, de ir lá e pegar algo no campo do Outro, do que receber passivamente algo do outro que quer ensinar

Tais considerações me remetem a um pensamento de Sartre que diz que “escolher não escolher, ainda sim é uma escolha”, assim sendo, por mais influenciáveis que todos nós sejamos, podemos escolher quais influencias nos influenciarão e acima de tudo, como isso vai nos significar, como marcará nossa subjetividade, já que hoje se entende também o “poder” da resiliência, o que aponta novas perspectivas para os traumas e dores da vida dos sujeitos, reforçando que não há regras para a subjetividade, a qual é única em cada indivíduo. Freud enfatiza que “qualquer coisa que recebo do outro exige minha participação, meu consentimento, para que seja ativada em mim”, negando a ideia de recepção automática, seja por conta da genética, seja por conta do ambiente.

Ensinar, como apresentado pelo autor consiste em colocar “en-signos”, o que exige intencionalidade consciente e deliberada de passar uma certa significação. Já transmitir indica, feito um vírus que passamos a diante a nossa revelia, ausência de intenção consciente e, consequentemente, de qualquer possibilidade de mestria. Além disso, qualquer ação de tenhamos enquanto educadores fica claro que depende parcialmente de nós, a outra parte, a qual se dá por meio da transferência feita por aquele que aprende, pouco ou nada podemos fazer.

Ler Freud e sobre Freud pelo seus seguidores foi uma grande experiência de reflexão, primeiramente por trazer à consciência o inconsciente, poder se compreender, se aceitar e acima de tudo perceber que toda anormalidade é normal... sobre Cila e Caribde ficou claro que a normalidade é possível, porém é necessário muito equilíbrio sobre uma linha tênue e pouco clara, como a linha que separa o encontro do rio com o mar, se pender para um lado encontra o sal da perversão e se pender para  outro encontra o doce da neurose.

Sobre o conhecimento da criança, o autor nos aponta algumas reflexões, que a ação educativa é uma equação que inclui o que é a criança e o que se deve ser o educador para esta a partir do que ela tem (todo o seu repertório físico-cognitivo), que ainda, diversas vezes observamos/avaliamos a criança a partir do que ela não tem, do que não é ainda, e principalmente, que o grande paradoxo do educador é que quanto mais saber acadêmico se tem mais longe se fica da escuta daquilo que a criança diz, dificultando a tomada de decisões das situações que envolve a criança.
Posteriormente, o autor faz a comparação com a anedota da centopeia que perguntada sobre qual é utilizaria para dar o próximo passo nunca mais andou, assim é o dilema também da educação, pois a consciência é necessária mas o livre fluir também, e a ignorância como ressaltada pelo autor nos dizeres de Sara Pain, tem uma função, que pode ser conservadora ou acomodatória, já que todo adulto tem uma criança em si, lidar com outras crianças é ter que lidar com sua própria criança, e ter que rever sua história, traumas e influencias, tarefa desafiadora para qualquer adulto.

Outra contextualização que me chamou bastante atenção foi quando falado sobre o “jardim de infância” termo usado para indicar a primeira escola da criança, que nos remete a ideia de desenvolvimento da criança como sendo uma planta, que precisa de boas condições do ambiente e de alimento e uma ajudinha da mão humana para que se tenha um jardim, e caso contrário, havendo ausência de uma ou todas essas necessidades se teria uma selva.

Outra ideia bastante interessante do texto é que a criança está tão pronta para a vida quanto o adulto, cada um dentro de seu repertório simplesmente nunca estará pronto, pois para “ganhar/adquirir” algo novo é preciso perder algo que se tem, isso em qualquer campo, seja ele físico, cognitivo e psicológico, um exemplo muito claro disso é que para a criança se transformar em um adulto precisa perder todo o vigor que se tem na infância, a começar pela pele e tônus muscular.

Sempre tive para mim que só se pode mudar, se rebelar daquilo que você faz parte, percebo isso na reflexão de Lacan citada no texto onde afirma a importância da alienação, pois sem esta o numero de psicóticos e perversos seria arrasador da própria sociedade. A alienação na infância e da infância se dá de maneira sadia para a existência de uma sociedade e não de uma selva, “o sujeito ama a cultura, posto que sem ela não encontraria a medida de sua satisfação, mas a odeia, porque vê nela um limite que impõem regras à sua tendência alucinatória rumo à plena satisfação”.

O autor prossegue esclarecendo que educar para a realidade quer dizer permitir acordos mínimos para que se consiga estar-com, com-viver em comum-unidade. E acrescenta que a educação mais bem-sucedida é aquela que fracassa, por ser transformada pelas novas gerações com o novo.

O autor também alerta o educador a conter o seu domínio do outro, aquele que aprende, pois quando me identifico com o ideal do eu de alguém, abro uma via pela qual o outro pode me influenciar, sendo este o mecanismo utilizado pelo educador para conseguir que se estabeleça um campo para a aprendizagem, porém deve-se constantemente ceder a tentação de abusar do orgulho educativo, prejudicando essa relação pelas amarras que estabelece. O bom educador deve conduzir o saber, a educação de maneira que o próprio aluno se identifique com seu próprio saber. A “preocupação de todo bom educador: formar sem conformar”.

E para mim, o grande aprendizado desta leitura está na página 67, onde o autor apresenta:
“ o bom mestre é aquele que o discípulo supere, não tanto no sentido de chegar mais longe que ele, mas de não ver mais nele a medida de condição ideal. Esse efeito de superação, essa passagem, Lacan ressalta coo crucial em uma formação que leva, no final, alguém a se autorizar como analista”.

Nesta perspectiva, sinto-me mais capaz de me autorizar analista do que psicopedagoga, porém já me autorizei a ser professora, mesmo sem ser pedagoga.

...

Muito de mim pude entender em uma leitura de meio dia... é, Freud explica mesmo!!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário