terça-feira, 19 de junho de 2012

Estágio Institucional - Escola Waldorf Micael de Sorocaba... ONDE O MUNDO É BOM!


RELATÓRIO DE ESTÁGIO INSTITUCIONAL - Aline da Silva França

Contextualizando a Escola

Jardim de Infância – Escola Waldorf Micael de Sorocaba
Rua Antonio Medeiros, 54 - J Emília – Sorocaba – (15) 3018-8471
www.waldorfsorocaba.com.br

A Pedagogia Waldorf

A escola Waldorf foi criada em 1919 por Rudolf Steiner. Uma de suas principais características é o pensar no ser humano em seu aspecto físico, psico-emocional e espiritual, de acordo com a faixa etária da criança, buscando uma integração entre o pensar, o sentir e o querer, respeitando sua individualidade, liberdade, capacidade e talentos específicos.

O dia a dia é vivenciado com o contato com a natureza, brincadeiras, música, contos de fadas, atividades artísticas, jardinagem, culinária. O ensino teórico inicia aos sete anos e é sempre acompanhado pelo ensino prático, com grande enfoque nas atividades corpóreas, artísticas e artesanais, de acordo com a idade das crianças.

As atividades do pensar iniciam com o exercício da imaginação até gradativamente atingir o desenvolvimento do pensamento abstrato, teórico e rigorosamente formal.
Predomina o exercício e desenvolvimento de habilidades e não o mero acúmulo de informações, cultivando a ciência, a arte e os valores morais e espirituais para a formação de um ser completo.

"O nosso mais elevado objetivo deve ser o de desenvolver seres humanos livres, capazes por si próprios de imprimir propósitos e direção às suas vidas."
Rudolf Steiner.

O dia a dia no jardim de infância Waldorf .

O jardim de infância deve ser uma extensão da vida em família, um lugar seguro e suave para a criança, como o colo de sua mãe, respeitando suas conquistas individuais e seus processos fisiológicos em pleno desenvolvimento.

Crianças de diferentes idades convivem na mesma sala, como numa família onde os irmãos maiores cuidam e respeitam os menores e estes admiram e imitam os irmãos maiores. As crianças convivem em harmonia e respeito.

Na sala há cavaletes e panos para fazer cabanas, brinquedos de madeira, bonecos de pano, sementes, pedras, toquinhos. Os brinquedos são simples, próprios para desenvolver a imaginação e exercitar a criatividade. Brincando a criança conhece o mundo e a si mesma, desenvolvendo capacidades de relacionamento social e coordenação motora. É dada muita importância ao brincar criativo, livre e espontâneo.

O ritmo é importante e dá à criança segurança e confiança no mundo. As estações do ano dão o ritmo anual. O transcorrer da semana é marcado pelas atividades de cada dia (fazer o pão, trabalhos manuais, jardinagem). No dia a dia há a repetição de tarefas e movimentos: o brincar fora e o brincar dentro, o conto de fadas, os versos, as músicas e o momento das refeições, feitas com muito prazer. A área externa é arborizada, com flores, terra, grama, areia, horta e espaço para que a criança possa desenvolver a motricidade.

A professora, chamada de "jardineira" acompanha a classe até o ensino fundamental e conhece cada criança profundamente. Seu papel é acolher, orientar, incentivar, conduzir, cuidar, dar limites. A jardineira e toda a equipe estão sempre atentos aos seus gestos e posturas diante da criança, pois elas imitam o trabalho e gestos dos adultos.

É neste ambiente seguro e aconchegante que fazemos nascer na criança sua confiança no mundo. Ela vivencia que "o mundo é bom". Isso a guiará ao longo de sua vida.


A Escola Waldorf Micael - Sorocaba

A Micael é o único jardim de infância Waldorf de Sorocaba. Nasceu da vontade dos pais em proporcionar a seus filhos um lugar onde pudessem se desenvolver de forma integral.  É uma escola gerida pelos pais, em conjunto com os professores. 

A escola é associada à Federação das Escolas Waldorf do Brasil (www.fewb.org.br) e está preparada para receber crianças dos 2 aos 6 anos nos períodos da manhã, tarde, semi-integral e integral. 

À tarde a escola recebe também crianças dos 2 aos 10 anos para a recreação, quando as crianças podem ter contato com as atividades da pedagogia Waldorf, mesmo frequentando outra escola.  Nossa escola está crescendo e, no segundo semestre de 2012, mudaremos para uma chácara de 2 mil metros quadrados no bairro do Campolim, próximo ao Shopping Esplanada.

Hoje a escola encontra-se numa casa com poucas modificações de seu espaço, pois a Pedagogia Waldorf compreende a necessidade da criança no primeiro setênio (0 à 7 anos) desenvolver-se num ambiente familiar e aprender a cultivá-lo. Assim as crianças também colaboram com a organização, limpeza e desenvolvimento do início ao fim das atividades proposta.

A escola conta na entrada da casa com um salão onde as crianças podem brincar com tecidos, peças de madeira, mobiliários de casa feitos de madeira, bonecas de pano, escorregador de madeira e uma grande mesa de madeira. Tem em um dos cantos uma mesinha temática que apresenta/relembra às crianças a época que estão vivendo. O ano escolar é dividido por épocas, que vão de acordo principalmente com as épocas da natureza que influenciam o inconsciente humano, como por exemplo, na Páscoa a mesa é caracterizada com um jardim de casulos de lagartas que se transformaram em borboletas simbolizando a ressurreição, o renascimento que todas as pessoas passam, as vezes mais de uma vez ao ano, mas que isso é vivenciado pelas crianças como algo concreto, o que permite uma melhor assimilação do contexto e interiorização do mesmo.

Neste salão tem um banheiro adaptado para o uso das crianças com chuveiro, vaso sanitário e pia. Entre o salão e uma das salas tem um pequenino corredor onde fica o filtro com canecas para as crianças beberem água quando tiverem vontade, pois fica bem baixo, com fácil acesso para a criança, dando autonomia para estas sanarem suas necessidades fisiológicas.

A próxima sala é usada para as atividades artístico-manuais, que possui uma grande mesa de madeira, as crianças sempre trabalham juntas, pois isso desenvolve sua socialização e cooperação, fortalecendo as relações e estimulando o desapego da criança ao egocentrismo. Essa sala também possui quatro prateleiras onde ficam os materiais utilizados nas atividades, os quais não são mexidos ou estragados pelas crianças.

Na sequencia temos a cozinha, que é como a cozinha de casa, não há divisão entre a cozinha e o refeitório como é comumente organizado nas escolas. A cozinha tem uma grande mesa de madeira onde todos conseguem se sentar para as refeições, além dos utensílios normais de uma cozinha: pia, geladeira, fogão, microondas, armário e prateleiras que ficam acessíveis para as crianças, porém elas sabem que não é um equipamento para elas utilizarem. Dentro da rotina das crianças, tem o dia em que elas mesmas produzem seu pão integral e outro em que auxiliam no preparo do lanche. Além disso, todo momento de refeição tem um ritual de preparo e agradecimento, assim como uma ordem para se alimentar, todos sentam à mesa e fazem um agradecimento musical, depois, são servidos pelas próprias educadoras, as quais estimulam às crianças a comerem e ampliarem seu repertório gustativo, começando com as frutas, depois pão/granola/ovo de codorna/legumes e finalizam com o suco ou chá. Toda alimentação na escola é feita com produtos orgânicos.

Após a cozinha, segue-se um depósito com portas de correr de alumínio e vidro onde são estocados materiais das atividades que não são utilizados diariamente e produtos de limpeza. Neste corredor encontra-se uma banheiro sem adaptação para crianças e a outra sala, que é composta de brinquedos de madeira grande  (mobília de casa) e pequenos (peças de montar), além de bonecas de pano e tecidos, possui também quatro prateleiras e mini-camas de montar e desmontar para a soneca das crianças depois do almoço.
A área externa da casa é composta de uma parte com piso frio e outra de terra batida, no parte do piso ficam alguns brinquedos naturais de balançar e subir. Já na parte de terra, possui árvores, plantas, uma horta de cultivo das crianças, uma casa de madeira, cordas nas árvores, escorregador e gangorra de madeira e um tanque de areia, o qual é coberto diariamente ao término das atividades e tratado periodicamente. Na área externa também fica uma lavanderia onde são higienizados periodicamente os lençóis, tecido, toalhas, etc, da escola.


Dados da sala de aula

A escola trabalha com salas multisseriadas, ou seja, ela é composta por duas turmas somente, uma com 06 crianças de dois e três anos e outra com 12 crianças de quatro à seis anos, podendo cada educadora ficar no máximo com 18 crianças. Sendo que as duas turmas ficam/trabalham juntas em diversos momentos do dia.

Na escola que hoje possui 18 alunos, há 1 criança diagnosticada autista, 1 criança com distúrbio de fala, com diagnóstico exato em andamento, 1 criança com hipótese de hiperatividade e ainda 1 criança com processos diagnósticos em torno de distúrbio comportamental.

Os alunos com dificuldades de aprendizagem não são separados, porém como a Pedagogia Waldorf entende que a “Saúde se aprende. Educação é que cura” tem um olhar muito individualizado para cada criança que recebe, então, em alguns momentos desenvolve uma atividade específica ou tem um determinado comportamento para cada criança. Por exemplo, ao trabalhar aquarela com todas as crianças, a jardineira (educadora) irá criar um material mais aquoso para aquelas crianças muitos rígidas, para que elas, por meio da atividade pedagógica-terapêutica trabalhem sua subjetividade, ou para aquelas crianças muito calmas ou inativas irá trabalhar com cores quentes, mostrando que não é porque se trabalha em grupo que todos são iguais.

Outro fator muito rico desta experiência pedagógica é que recebe mensalmente a visita de um médico antroposófico, o qual orienta a atuação das jardineiras com cada criança, além de, em alguns casos atender a família para que a “cura” possa se dar, porque em alguns casos, a criança somatiza a realidade familiar, e como um espelho, reflete isso na escola e em sua saúde, sendo ela o escape das doenças familiares. Sendo necessária uma mudança no contexto familiar para que essa criança possa ter uma melhoria em saúde e em seu desenvolvimento infantil.

As duas jardineiras tem graduação em Pedagogia e cursam a formação específica em Pedagogia Waldorf, pré-requisito para se trabalhar em escolas Waldorf, tal formação é realizada em três anos. Uma das jardineiras também possui especialização em Psicopedagogia, o que se torna um fator complementar, porém não é um diferencial, já que a própria Pedagogia Waldorf é terapêutica. Hoje a escola não conta com auxiliares de turma por conta do espaço não comportar mais alunos, porém com a previsão do aumento desse público com a mudança de espaço será necessário um(a) auxiliar para cada turma.

A rotina da escola se dá em diversos ambitos: diário, semanal e anual (períodos). Desta forma, a rotina diária inicia às 08h00 e finaliza às 17h00, sendo que tem alunos que ficam somente um período ou semi-integral. O ritmo diário inicia-se às 08h00 roda bom de bom dia com músicas, movimentos corporais, comportamentos de respeito ao próximo, social. Às 08h20, inicia-se a atividade do dia, que segue até por volta de 08h50, tais atividades respeitam um ritmo semanal, assim sendo às segundas-feiras fazem o pão, às terças-feiras é o dia de aquarela, nas quartas-feiras passeio ao parque da Biquinha, já nas quintas-feiras fazem salada de frutas e/ou jardinagem e nas sextas-feiras é o dia a faxina. Vale lembrar que cada criança faz estas atividades em seu ritmo, assim, quem termina primeiro, brinca livremente no mesmo espaço, outros podem desenhar, etc.

Após a atividade do dia é hora de arrumar a sala, que é realizada por todos sempre acompanhada por música. Por volta de 9:15, fazemos a roda rítmica, relacionada sempre com a época vivenciada, então neste momento, canta-se, usa-se muito o corpo, é um grande resgate ao imaginário e a ludicidade. Em seguida lavamos as mãos, e é a hora do lanche, neste momento, o tempo é indeterminado, às vezes acontece rapidamente, porém, tem dias que demora mais de 40 minutos, e esse momento é além de um lanche, é uma atividade, pois muitos fatores importantes pode-se dar neste momento. Quando o lanche termina, escovam os dentes, preparam a sala para o final do dia e vão brincar na área externa, esse momento pode durar até 1 hora e meia, depende de quanto durou a hora do lanche. Às 11h30 as crianças são convidadas para retornar para a sala, lavar as mãos, em uma roda, a professora conta a história, relacionada a época, ou a uma necessidade especifica apresentada. Vale lembrar que as histórias utilizadas são sempre contos de fadas, dos Irmãos Grimm's. O ritmo anual é composto por épocas que duram de três a quatro semanas cada: verão – praia, páscoa, pentecostes, anões, são joão-lanterna)

A cor do som...


Reflexo... dentro e fora



domingo, 17 de junho de 2012

Propósito de vida...


"O nosso mais elevado objetivo deve ser o de desenvolver seres humanos livres, capazes por si próprios de imprimir propósitos e direção às suas vidas."

Rudolf Steiner.

Saúde e Educação

Sáude se aprende... Educação é que cura!!!

sábado, 16 de junho de 2012

Vendi meu carro para o número 7


O número SETE é com certeza o mais presente em toda filosofia e literatura sagrada desde os tempos imemoriais até os nossos dias. O número SETE é sagrado, perfeito e poderoso, afirmou Pitágoras, matemático e Pai da Numerologia. É também considerado um número mágico. É um número místico por excelência. Indica o processo de passagem do conhecido para o desconhecido. O SETE é uma combinação do TRÊS com o QUATRO; O TRÊS, representado por um triângulo, é o Espírito; o QUATRO, representado por um quadrado, é a Matéria. O SETE podemos dizer que é Espírito na Terra, apoiado nos quatro Elementos, ou a Matéria “iluminada pelo Espírito”. É a Alma servida pela Natureza.
O número QUATRO que simboliza a Terra, associado ao TRÊS, que simboliza o Céu, permite inferir que o SETE representa uma Totalidade em Movimento ou um Dinamismo Total, isto é, a Totalidade do Universo em Movimento.
O SETE é o número da Transformação, é a primeira manifestação do homem para conhecer as coisas do espírito, as coisas de Deus, a Criação. Ele é o número da Perfeição Divina, pois no sétimo dia Deus descansou de todas as suas obras. Ao lado do TRÊS, é o mais importante dos números sagrados na tradição das antigas culturas orientais.
Entre os judeus a concepção oriental do SETE se manifesta no Candelabro de sete braços (MENORAH), que representa tanto a divisão em Quatro partes da órbita da Lua, que dura 4 vezes 7, quanto os sete planetas.
Na Europa Medieval dava-se muita importância aos grupos de sete:
  • Havia SETE dons do Espírito Santo, representados na arte gótica em forma de Pomba;
  • SETE eram as virtudes;
  • SETE eram as artes;
  • SETE as ciências;
  • SETE eram os sacramentos;
  • SETE pecados capitais; e
  • SETE pedidos expressos no Pai Nosso.

Musica junina

"Eu vou com minha lanterna...
E ela comigo vai...

No céu brilham estrelas...
Na Terra brilhamos nós..."

domingo, 10 de junho de 2012

Vizinhos...

A primeira coisa a falar sobre vizinhos é que eu tenho diversas considerações a fazer sobre eles, e as farei no decorrer da vida... mas agora cabe uma observação sobre aromas e relações...

Onde eu moro agora, uma edícula in-dependente, sou cercada por famílias lindas, papai, mamãe e filhinhos, como toda boa família celebram suas alimentações diárias, e como isso é terrível, praticamente uma tortura... vc chega em casa, cansada, com frio, com sono, com um monte de pendencias de trabalho e estudos para fazer e COM FOME... quando a geladeira não parece um coco (só com água dentro), a comida tem que ser feita, ou quando você dá sorte de ter comida nela é de anteontem... meu Deus, e aquele cheiro... agora por exemplo, tá um cheiro terrível de sopa, nesse friozinho... o melhor que eu fiz foi um miojo, preferi dormi!!!

Afinal de contas o sono sustenta.

Aí fico pensando que a evolução das coisas, relações, tecnologia, etc, se nada disso tivesse acontecido as pessoas teriam almas mais bondosas e trariam coisas gostosas para me fazer feliz!!! hauhauahuah

Férias... sem férias

Nossa, me sinto de férias... quatro dias em casa... em casa mesmo!!! Fico da cama para o fogão, geladeira, banheiro e... cama de novo.

Como é sentir sono e dormir, fome e comer, frio e tomar banho ou ligar o aquecedor, ficar vendo sem assimilar nada do que passa na TV, como é bom ficar sozinha e se sentir satisfeita com isso, não se sentir na obrigação de fazer algo ou de estar com alguém...

Pra não dizer que eu não fiz nada, fiz sim... vivi tudo o que meu corpo queria, atendi todas as necessidades dele e só agora, no final do feriado prolongado é que liguei o computador para começar a organizar minha semana, e escrever um pouquinho, claro.

Ah, eu também arrumei meus livros, impressos, documentos e papéis e foi  muito curioso ler coisas que fiz, que pensei, que li, que escrevi que nem lembrava mais, fiquei orgulhosa de mim, quanta coisa já experimentei, vivi, fiz, sonhei e uma das coisas mais curiosas é que há alguns anos atrás não poderia suportar a ideia de estar só comigo quatro dias sem fazer nada, a produtividade estava consumindo minha mente, nada como fazer boas leituras para rever o que você faz, porque normalmente você pensa/sonha coisas boas, porém não faz parte da nossa prática ter uma prática reflexiva e perceber quão distante estamos as vezes de quem nós somos de verdade.[

Já faz algum tempo que comecei a construir pontes para dentro de mim...

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Freud e a Educação

Considerações sobre o livro...

As primeiras considerações são referente ao desenrolar do texto, o qual não se apresenta de uma maneira simplista, linear, o texto se apresenta de uma maneira acopladora, um desenvolvimento em espiral de seus conteúdos, os quais se ampliam na medida que fortalecem, esclarecem e exemplificam ainda mais o que já foi dito. Além disso, do começo ao fim nos apresenta um mesmo objetivo, de esclarecer que a Psicanálise pode colaborar para os sujeitos que fazem parte do processo de educação/aprendizagem mas não contribui para o processo em si como uma metodologia, haja visto  que o principio da Psicanálise é o inconsciente, o que pode estar menos presente nesse processo para que o mesmo aconteça por meio do recalque das ações primárias.

Particularmente gostei muito, livro de fácil leitura e interpretação, e até mesmo sem ter uma grande orientação psicanalítica percebi que minhas ações como educadora e agora como orientadora de educadores tem inspirações psicanalíticas, compreendendo é claro que me falta muito, tanto da parte de análise pessoal quanto de “assassinato” do meu mestre para se chegar ao desejado, porém compreendo que é caminhando que se faz o caminho.

No início do livro já percebo um grande presente no prefácio escrito por Paulo Cesar Souza, onde no primeiro parágrafo diz “a criança deve aprender a dominar seus instintos. É impossível lhe dar liberdade para seguir sem restrições de seus impulsos”. Fica claro aqui, que só podemos ser donos daquilo que possuímos e com isso podemos negá-lo ou seguí-lo, ou seja, para se ter uma sociedade com pessoas livres, faz-se necessário a contenção dos impulsos instintivos para que possa se organizar, e o sujeito, ao tornar-se adulto, fazer suas escolhas livre por ter tido disciplina em sua formação.

Pesando que ao se dar liberdade às crianças estas seriam menos neuróticas e angustiadas, já em seu início, as pesquisas psicanalíticas perceberam que a ausência de restrições poderiam produzir delinquentes, e que a repressão excessiva pode causar distúrbios neuróticos. Descobriu-se ainda que as angústias são inevitáveis à infância, e que estas são constitutivas do indivíduo, desde seu caráter à sua sexualidade.

E Souza finaliza o prefácio do livro dizendo que “na escola como na vida, nós aprendemos por amor a alguém”, frase essa a ser bem elucidada nas págs. 63/64, onde a autora apresenta “Quer-se entender como uma criança pensa? Leia-se Piaget. Quer-se entender o que é que sente uma criança, ou por que é agressiva? Leia-se Freud”, ficando claro que Freud vem propor uma explicação sobre a aprendizagem cognitiva da criança, mas sim afetivo-social.

O primeiro capítulo é composto por três subcapítulos, no primeiro, a autora retrata toda a vida de Freud, o que torna fácil a compreensão posterior de sua(s) teoria(s). Todo o seu percurso teórico foi embasado em suas vivências pessoais, desde rever sua infância até seu relacionamento/análise de sua relação com os filhos. O que faz da Psicanálise um tanto quanto humanizada, pois para mim, parece que a teoria de Freud “nasce com ele” e não a partir de seus estudos acadêmicos, é um tanto quanto diferenciada.

No segundo subcapítulo, começa-se a desenvolver de fato as ideias da Teoria de Freud, apresentando a relação da educação com a sexualidade e de outros termos como as pulsões e sublimação. Esta última foi para mim, é a que mais se destacou, pois a sexualidade definida por Freud não diz respeito somente a genitalidade, compõem toda a corporeidade do sujeito, definindo as fases psicossexuais de desenvolvimento, sendo estas a fase oral, anal e genital. Ora, se a sexualidade da criança está concentrada em lugares diferentes do corpo em diferentes fases da vida, esta tem uma razão diferenciada de aprendizagem para cada período.

A pulsão sexual, desta forma, é passível de sublimação, tendo a educação papel fundamental nesse processo. A autora explica que “uma pulsão é dita sublimada quando deriva para um alvo não-sexual” e continua “a energia que empurra a pulsão continua a ser sexual, seu nome, já consagrado é libido, porém o objeto não é mais”. Nestas fases, até mesmo por conta do recalque da educação há uma espécie de excesso libidinal (que chamamos vulgarmente de “energia” e/ou curiosidade) que deve ser reaproveitado para atividades educativas, as quais trazem um prazer pela descoberta e apropriação de conhecimento e habilidades, ou seja, todas aquelas que promovem um aumento do bem-estar e qualidade de vida, proporcionando com estas descobertas ou atividades um grande prazer, conseguindo dar uma “função” para tal pulsão.

Porém em nossa atual sociedade, temos algumas situações novas e outras nem tanto. Continuamos apresentando um processo educativo conteudista, severo, punitivo e desmotivante para as crianças, desde o ambiente até os professores, os quais as crianças deveriam ter elevada admiração e servir de inspiração e bom modelo. Temos também uma conotação sexual demasiadamente explícita, nas roupas, músicas e rituais familiares/sociais.

No primeiro exposto percebemos que o ambiente escolar e todo o seu contexto não consegue oferecer tal prazer por meio da educação, salvo alguns poucos professores e metodologias de ensino, porém não é essa a realidade da escola pública brasileira. E além disso, no segundo exposto, percebemos uma sociedade sexualizada (genitalmente) pela exposição e culto ao corpo, a popularização de músicas com letras e danças demasiadamente sexuais e a extrema falta de valores morais familiares, fazendo com que toda essa pulsão infantil, que deveria ser revertida no prazer de aprender seja satisfeita pelos rituais sociais de grande conotação sexual.

Além disso, os educadores que pouco conhecem ou fazem por onde conhecer a Psicanálise, recalcam demasiadamente as pulsões infantis. A autora dá um bom exemplo de como utilizar a Psicanálise para orientar as ações dos educadores, terá a criança numa certa idade curiosidade por suas fezes, tendo com isso o desejo de manipulá-las, parte dessa pulsão deve ser reprimida, parte irá compor sua sexualidade genital e parte será sublimada, ou seja, poderá se transformar por exemplo, na atividade de esculpir em argila. Nesse ultimo movimento existe somente um objeto dessexualizado, tendo contudo uma energia orientando isso, que é a libido, transformando o “desejo de manipular” as fezes numa atividade educativa sublimada, ou seja, equivalente para a pulsão infantil. Caso a repressão às pulsões da criança seja grande, poderá nesse caso, originar uma neurose obsessiva por limpeza. Porém destaca a autora que Freud destaca que sem sublimação não há cultura, e complemento que produção cultural não é cultura. Fazendo uso desse conhecimento, o educador pode tirar bom proveito dessas pulsões para a curiosidade intelectual e produzir com isso conhecimento com e para  criança.

Mais adiante no texto temos uma ideia que foi mais desenvolvida por Reich e Marcuse sobre o fato da repressão sexual ter um fator político, servindo a sua opressão para a submissão e manipulação das massas. Fazendo uso em beneficio próprio as classes sociais no poder da repressão já instalada por outros meio. Valendo-se disso, um bom educador deve buscar para seu educando o equilíbrio entre o prazer individual e as necessidades sociais.

Ao final do segundo capítulo aborda-se a educação sexual de crianças, que devem ser informadas assim que demonstrarem interesse sobre o assunto, não sendo demasiado aprofundado e nem fantasioso, porém é notado por Freud uma grande dificuldade de pais e professores tratarem desse assunto, por este ainda não estar bem resolvido em sua infância. Aqui a autora faz observações pertinentes aos educadores, que a qualidade da educação que se propicia está ligado intimamente as soluções e lida dos adultos com suas angústias e neuroses infantis, tendo que estar este disposto a rever alguns fatos da infância para poder operá-los de maneira impessoal, vazia. Destaca ela “é necessário que o educador se reconcilie, volte a ficar de bem com a criança que há dentro dele”, sendo esta possível por meio de análise, seja ela auto-análise ou por meio de um profissional.

Dois fatores importantes destacados no terceiro subcapítulo são as pulsões de vida e pulsões de morte, e o princípio de prazer e princípio de realidade. No conflito entre estas duas pulsões é que surge o desenvolvimento consciente, pois as pulsões de vida nos levam a nos movimentar, a descobrir coisas novas, já a pulsão de morte nos leva a acomodação, a imobilidade. Já o princípio do prazer nos levar a satisfação e nossas vontades, instintos, pulsões e o princípio de realidade é o autoregulador de tais vontades.

Inicia-se o segundo capítulo apresentando as ideias das fases de desenvolvimento psicossexual, onde se constitui a primeira fase oral, onde predominam os interesses ligados à boca, uma segunda fase anal, onde os interesses se ligam ao prazer de defecar e de manipular as fezes, e uma terceira fase fálica, ligada ao interesse pelo pênis/falo. Nesta última fase é onde acontece o Complexo de Édipo e a castração. E é pelo Complexo de Édipo que a criança aprende a ser uma mulher ou um homem segundo modelos fornecidos pelo pai e pela mãe ou por quem quer que venha ocupar essa função, é uma estrutura a qual o ser humano define-se como ser sexuado.

Uma questão muito importante já tratada pela autora, é a incapacidade de lidar com a sexualidade da criança, tanto por parte dos pais quanto por parte dos professores. Mais a frente a autora complementa que outro aspecto de difícil de ser trabalhado por estes atores é a agressividade, que normalmente é somente reprimida em determinados tempo/espaço mas não é trabalhada, educada, aparecendo de maneira desenfreada em outros tempos/espaços. Questões estas que põem um grande hiato entre Psicanálise e Educação, já que em nossa educação tradicional pública ainda se mantém o professor como o detentor do saber e pessoa suficientemente boa para suprir as necessidades de desenvolvimento da criança, quando a Psicanálise propõem a escuta e a compreensão da transferência como condições primordiais para a relação analista-analisando e/ou professor-aluno, e acima de tudo utiliza-se do inconsciente e para tal não há método de controle, como feito pela Educação com seus métodos para trabalhos o consciente e semiconsciente.

Outro fator que impossibilita tal relação é o fato de o professor ter que se colocar numa posição neutra, como faz o analista, só que essa neutralidade é impossível e até mesmo indesejável, tanto por parte da criança quanto por parte do professor. Cabendo como já exposto a Psicanálise ajudar os indivíduos que compõem a relação de ensino-aprendizagem e não ela em si.

No ultimo capítulo a autora esclarece e “amarra” todas as ideias apresentadas até o momento. “O que se espera é que ao final do conflito edipano, a investigação sexual caia sob o domínio da repressão. (...) Parte dela sublima-se em pulsão de saber, associada a pulsões de domínio e a pulsões de ver. (...) O desejo de saber associa-se com o dominar, o ver e o sublimar”. A pulsão de domínio está associada a curiosidade, e a pulsão de ver a observação, leitura, viajem.

A boa ou má relação que se dá entre alunos e professores sofre influencia, segundo Freud, dos sentimentos que a criança dirigia ao pai ao solucionar seu Complexo de Édipo, pois os educadores é que passarão a ser a “lei”, o que era antes exercício paterno. Esta relação que se estabelece é que faz com que o professor possa ser ouvido, que tenha uma importância especial e que acima de tudo, seja uma referência/influencia para o aluno. Esta influencia está mais ligada à moralidade e afetividade do que aos conteúdos cognitivos. Estabelecendo que o mais importante na perspectiva psicanalítica é o campo onde se estabelece o saber do que o saber em si.

A este campo chama-se transferência, e é por meio dele que se pode “atingir”, chegar ao sujeito aprendente ou se ter também grande dificuldade nesta tarefa. Pois para cada aluno o professor (não importa o sexo) símbolo do pai terá um significado, cabendo ao professor identificar essa representação para criar uma estratégia de um campo amistoso de aprendizagem, o qual se dificulta ao passo que se torna mais numerosa a sala e heterogênea socioeconômica e culturalmente:

“O professor torna-se então “depositário” de algo que pertence ao aluno. Em decorrência dessa “posse”, tais figuras ficam inevitavelmente carregadas de uma importância especial. E é dessa importância que emana o poder que inegavelmente tem sobre o individuo”.

Esse contexto é um dos apoios da autora/Freud para justificar que a junção da Psicanálise e a Educação é impossível, pois é somente o desejo do professor de sê-lo é que justifica que ele esteja ali, mas estando ali ele precisa renunciar a esse desejo e se “esvaziar” para saber que será a representação de uma pessoa que muitas vezes nem conhece, e toda sua fala e atitudes serão captadas pelo inconsciente da criança do lugar onde esta o colocou.

Outro apoio que fica bem claro na conclusão do livro sobre essa impossibilidade é que, qualquer metodologia pedagógica implica em ordem, estabilidade e previsibilidade e a Psicanálise implica no inconsciente, no imponderável, no imprevisto, no que se desvanece, no que escapa, sendo estas antagônicas:

“O educador que inspirar sua atuação na Psicanálise deve renunciar sua prática em atividades excessivamente programadas, instituídas, controladas com rigor obsessivo. Aprende que pode organizar seu saber, mas não tem controle sobre os efeitos que produz sobre seus alunos. Fica sabendo que pode ter uma noção, através de uma prova, por exemplo, daquilo que está sendo assimilado, naquele instante pelo aluno. Mas não conhece as muitas repercussões inconscientes de as presença e de seus ensinamentos, pensar assim leva o professor a não das tanta importância ao conteúdo daquilo que ensina, mas a passar a vê-los como a ponta de um iceberg muito mais profundo, invisível aos seus olhos. Pode-se dizer, por isso que a Psicanálise pode transmitir ao educador uma ética, um modo de ser e entender sua prática educativa”.

Prossegue orientando que o educador deve se apegar a compreender a subjetividade do aprendente, que não importa o que e como ensine, apreenderão o que quiserem e o que não servir jogarão fora, sem que isso se manifeste numa rebeldia consciente. Aceitará e fortalecerá essa rebeldia inconsciente pois sabe que esse é o motor para a sua posição na sociedade e liberdade. “O encontro com o que foi ensinado e a subjetividade de cada um é que torna possível o pensamento renovado, a criação, a geração de novos conhecimentos”:

“Esse mundo desejante que habita diferentemente cada um de nós, estará sendo preservado cada vez que um professor renunciar ao controle, aos efeitos de seu poder sobre os alunos. Estará preservado cada vez que um professor se dispuser a desocupar o lugar o lugar de poder em que o aluno o coloca necessariamente no inicio de uma relação pedagógica, sabendo que, se for atacado, nem por isso deverá reprimir tais manifestações agressivas. Ao contrário, saberá que estão em jogo forças que ele não conhece em profundidade, mas que são muito importantes para a superação do professor como figura de autoridade e indispensáveis para o surgimento do aluno como ser pensante. Matar o mestre para se tornar o mestre de si mesmo”.

A este professor, com tal orientação cabe permanecer “tranquilo, inteiro, consciente de seus poderes e limites, humilde e impotente frente a tarefa de ajudar outro ser humano a atingir seu mais radical compromisso com a vida: ser um individuo livre e produtivo”.

E mesmo com todo o exposto creio que a Pedagogia Waldorf tem grande inspiração psicanalítica ou grande relação com a Psicanálise, pois tem uma formação específica para os professores, os quais se apresentam mais “liberados” em sua rotina educacional; oferece cursos para os pais, entendendo que muitas vezes estes tem que não só resolver conflitos internos como experimentar situações novas; entende o sujeito e sua subjetividade formada pelo “eu”, entre outras questões. Assim creio que essa pedagogia atende em grande parte às expectativas da Educação para Freud.

Psicanálise e Educação - Rinaldo Voltolini

Considerações sobre o livro...

O autor faz ricas considerações sobre a relação psicanálise e educação, o que ma faz compreender quão ricas são as contribuições que a primeira faz a segunda, ficando a meu ver que, apesar de Freud discorrer sobre a sexualidade suas considerações vão para além da “educação sexual”. Primeiramente contribui com a explicação de que a criança vem ao mundo por um desejo dos pais, pois hoje é de conhecimento de todos diversas maneiras contraceptivas para se evitar uma gravidez, então essa criança torna-se um objeto de desejo (não sexual) dos pais, onde por meio desta criança irá atender (ou ao menos busca-se isso) as necessidades narcísicas dos pais, tentando fazer, por menor que seja, da criança sua imagem e semelhança.

O mesmo acontece com a relação aluno-professor, onde o professor encontra sua sublimação nos atos/momentos em que seu aluno consegue também sublimar suas pulsões no ato de aprender, ou melhor dizendo, apreender um conceito ou assunto, explicitando isso por meio do debate/embate, resolução de situações-problema nas provas e apresentações de trabalhos de pesquisa, o aluno então, como objeto de desejo (não sexual) do professor que atende as necessidades narcisísticas de quem ensina na medida que consegue mostrar o quanto o professor o influenciou e o marcou, conseguindo empregar no aluno seu saber.

O autor discorre também sobre a relação transferencial aluno-professor e professor-aluno, e que esta influencia muito mais na aprendizagem do que as disciplinas que se ensina, pois inconscientemente remete a uma simpatia ou antipatia gratuita de ambas pessoas por lembrar de um sujeito que lhe remete boas lembranças ou de um sujeito que remete a más lembranças, criando com isso um campo amistoso ou não para a aprendizagem. Porém destacada que o ato de aprender está muito mais ligado “muito mais a uma operação ativa, de ir lá e pegar algo no campo do Outro, do que receber passivamente algo do outro que quer ensinar

Tais considerações me remetem a um pensamento de Sartre que diz que “escolher não escolher, ainda sim é uma escolha”, assim sendo, por mais influenciáveis que todos nós sejamos, podemos escolher quais influencias nos influenciarão e acima de tudo, como isso vai nos significar, como marcará nossa subjetividade, já que hoje se entende também o “poder” da resiliência, o que aponta novas perspectivas para os traumas e dores da vida dos sujeitos, reforçando que não há regras para a subjetividade, a qual é única em cada indivíduo. Freud enfatiza que “qualquer coisa que recebo do outro exige minha participação, meu consentimento, para que seja ativada em mim”, negando a ideia de recepção automática, seja por conta da genética, seja por conta do ambiente.

Ensinar, como apresentado pelo autor consiste em colocar “en-signos”, o que exige intencionalidade consciente e deliberada de passar uma certa significação. Já transmitir indica, feito um vírus que passamos a diante a nossa revelia, ausência de intenção consciente e, consequentemente, de qualquer possibilidade de mestria. Além disso, qualquer ação de tenhamos enquanto educadores fica claro que depende parcialmente de nós, a outra parte, a qual se dá por meio da transferência feita por aquele que aprende, pouco ou nada podemos fazer.

Ler Freud e sobre Freud pelo seus seguidores foi uma grande experiência de reflexão, primeiramente por trazer à consciência o inconsciente, poder se compreender, se aceitar e acima de tudo perceber que toda anormalidade é normal... sobre Cila e Caribde ficou claro que a normalidade é possível, porém é necessário muito equilíbrio sobre uma linha tênue e pouco clara, como a linha que separa o encontro do rio com o mar, se pender para um lado encontra o sal da perversão e se pender para  outro encontra o doce da neurose.

Sobre o conhecimento da criança, o autor nos aponta algumas reflexões, que a ação educativa é uma equação que inclui o que é a criança e o que se deve ser o educador para esta a partir do que ela tem (todo o seu repertório físico-cognitivo), que ainda, diversas vezes observamos/avaliamos a criança a partir do que ela não tem, do que não é ainda, e principalmente, que o grande paradoxo do educador é que quanto mais saber acadêmico se tem mais longe se fica da escuta daquilo que a criança diz, dificultando a tomada de decisões das situações que envolve a criança.
Posteriormente, o autor faz a comparação com a anedota da centopeia que perguntada sobre qual é utilizaria para dar o próximo passo nunca mais andou, assim é o dilema também da educação, pois a consciência é necessária mas o livre fluir também, e a ignorância como ressaltada pelo autor nos dizeres de Sara Pain, tem uma função, que pode ser conservadora ou acomodatória, já que todo adulto tem uma criança em si, lidar com outras crianças é ter que lidar com sua própria criança, e ter que rever sua história, traumas e influencias, tarefa desafiadora para qualquer adulto.

Outra contextualização que me chamou bastante atenção foi quando falado sobre o “jardim de infância” termo usado para indicar a primeira escola da criança, que nos remete a ideia de desenvolvimento da criança como sendo uma planta, que precisa de boas condições do ambiente e de alimento e uma ajudinha da mão humana para que se tenha um jardim, e caso contrário, havendo ausência de uma ou todas essas necessidades se teria uma selva.

Outra ideia bastante interessante do texto é que a criança está tão pronta para a vida quanto o adulto, cada um dentro de seu repertório simplesmente nunca estará pronto, pois para “ganhar/adquirir” algo novo é preciso perder algo que se tem, isso em qualquer campo, seja ele físico, cognitivo e psicológico, um exemplo muito claro disso é que para a criança se transformar em um adulto precisa perder todo o vigor que se tem na infância, a começar pela pele e tônus muscular.

Sempre tive para mim que só se pode mudar, se rebelar daquilo que você faz parte, percebo isso na reflexão de Lacan citada no texto onde afirma a importância da alienação, pois sem esta o numero de psicóticos e perversos seria arrasador da própria sociedade. A alienação na infância e da infância se dá de maneira sadia para a existência de uma sociedade e não de uma selva, “o sujeito ama a cultura, posto que sem ela não encontraria a medida de sua satisfação, mas a odeia, porque vê nela um limite que impõem regras à sua tendência alucinatória rumo à plena satisfação”.

O autor prossegue esclarecendo que educar para a realidade quer dizer permitir acordos mínimos para que se consiga estar-com, com-viver em comum-unidade. E acrescenta que a educação mais bem-sucedida é aquela que fracassa, por ser transformada pelas novas gerações com o novo.

O autor também alerta o educador a conter o seu domínio do outro, aquele que aprende, pois quando me identifico com o ideal do eu de alguém, abro uma via pela qual o outro pode me influenciar, sendo este o mecanismo utilizado pelo educador para conseguir que se estabeleça um campo para a aprendizagem, porém deve-se constantemente ceder a tentação de abusar do orgulho educativo, prejudicando essa relação pelas amarras que estabelece. O bom educador deve conduzir o saber, a educação de maneira que o próprio aluno se identifique com seu próprio saber. A “preocupação de todo bom educador: formar sem conformar”.

E para mim, o grande aprendizado desta leitura está na página 67, onde o autor apresenta:
“ o bom mestre é aquele que o discípulo supere, não tanto no sentido de chegar mais longe que ele, mas de não ver mais nele a medida de condição ideal. Esse efeito de superação, essa passagem, Lacan ressalta coo crucial em uma formação que leva, no final, alguém a se autorizar como analista”.

Nesta perspectiva, sinto-me mais capaz de me autorizar analista do que psicopedagoga, porém já me autorizei a ser professora, mesmo sem ser pedagoga.

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Muito de mim pude entender em uma leitura de meio dia... é, Freud explica mesmo!!!